quinta-feira, 17 de maio de 2012

Saudosa sonoridade aromatizada


Misturado ao cenário seguia rastros com o rosto bem rente ao chão molhado e liso, chão de terra vermelha de morro, terra firme e seguia sentindo os pingos da chuva fina na envergadura das costas largas, olhos ao chão, atentos e ao mesmo tempo dispersos. Buscava vestígios do portal para o passado, onde o cheiro do tempo esconde os aromas felizes e, vez ou outra, os espalha no ar, cheiro de omelete com cebola, de bolo de banana com calda de açúcar queimado, de café feito em coador de pano, de leite fresco e de cocô de vaca e dos cavalos das charretes e das carroças deixados pelos caminhos de chão batido. Os caminhos eram naturalmente enfeitados de capim verdinho à beira das trilhas abertas no mundo. Chão assim é daqueles que levantam uma poeira fina em dias de vento mais forte e se esfregar muito dá até brilho. O som  do mundo, também guardado no tempo por detrás do portal, é de se ouvir com o coração,  som do balançar das folhas das goiabeiras, goiabeira tem folha grossa e quando a água da chuva começa a cair faz barulho. Goiabas brancas e vermelhas, as brancas são as que mais apresentam o famoso bichinho, que os mais velhos diziam fazer com que os olhos ficassem azuis como o céu brasileiro... Assim como a folha das goiabeiras, as da bananeira também são barulhentas em dias de chuva. Naquele quintal imenso e verde e povoado no amarelo da banana prata, nanica e banana ouro, aquela bem pequenina, muito comum no litoral de São Paulo, a chuva fazia sua melodia. Em dias de sol forte, depois das chuvas, as laranjeiras exalavam um aroma que nem dá pra descrever, só sentindo mesmo e os pardais ficavam no chão, saltitando ao sol em busca de guloseimas de passarinho sob os galhos do caquizeiro. O caquizeiro era soberano no meio do quintal, caqui-chocolate, fruta vermelha por fora e marronzinha por dentro, doce feito mel, de comer e lambuzar as mãos, o rosto e manchar as roupas, para o desespero das mães. Esses aromas e sons guardados no tempo, ah,  somente vez em quando o portal deixa vazar e ninguém ainda encontrou verdadeiramente o portal, por isso  a busca continua e cada vez que o portal deixa escapar qualquer coisa, a memória desperta as imagens guardadas nas retinas, e o coração guarda bem protegido o que a memória sentiu até outra busca começar ...
                                       krika 17/05/2012

Um comentário:

  1. foto by krika - chão do meu quintal depois de uns dias chuvosos em Lorena/SP...

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário, sugestão, dicas, blog se alimenta de comentários..rsrs
Se não encontrar a opção de postagem escolha Anônimo e deixe seu nome no comentário!!!
Mas lembre-se, recados ofensivos não serão admitidos!!